As abelhas sem ferrão viajam longas distâncias para polinizar as árvores do Cerrado 

O Brasil possui uma das maiores diversidades de espécies de abelhas sem ferrão do mundo. Diante de um cenário ambiental desafiador, é importante entender os recursos que essas abelhas tropicais utilizam como fontes de alimento. Aline Martins e colaboradores investigaram a preferência floral das abelhas sem ferrão no Cerrado, compartilhando resultados interessantes que também podem ser estudados em outros biomas.

Autora:  Ana Paula Cipriano

Read in English

Abelhas e outros animais visitam flores para coletar alimento, e durante esse processo, facilitam a reprodução das plantas, que gera novos frutos e é essencial para a biodiversidade. Existem muitas espécies de polinizadores, e eles têm preferências por tipos específicos de flores, dependendo de sua cor, tamanho, forma e horários de abertura. Por exemplo, os beija-flores visitam algumas plantas que correspondem ao formato tubular de seus bicos, enquanto os morcegos polinizam flores que se abrem durante a noite. 

Muitas espécies de abelhas sem ferrão são generalistas e visitam uma diversidade de espécies de plantas para obter néctar e pólen suficientes para suas colônias. As flores que essas abelhas tropicais visitam dependem da vegetação em seu ambiente, mas também da morfologia da abelha. Por exemplo, as abelhas sem ferrão têm diferentes tamanhos, o que está correlacionado à distância que podem voar para obter recursos. 

Ainda não está claro quantas espécies de plantas as abelhas sem ferrão visitam e quais são suas preferências. Um grupo de pesquisadores liderado por Aline Martins investigou essas questões recentemente (2023), estudando três espécies de abelhas sem ferrão: “uruçu-amarela” (Melipona rufiventris), “mandaguari” (Scaptotrigona postica) e “jataí” (Tetragonisca angustula). Considerando a praticidade de estudar essas questões, esta pode ser considerada uma pesquisa desafiadora, pois o Brasil tem uma grande diversidade de espécies vegetais, e é difícil rastrear quais flores as abelhas visitaram, especialmente em árvores de floresta. Mas Martins e seus colaboradores usaram uma técnica inovadora que identificou as espécies de plantas apenas estudando o pólen e o néctar armazenados pelas abelhas em seus potes. Isso é possível devido ao DNA das plantas, pequenas moléculas dentro das células que são únicas para cada espécie. Essas moléculas de DNA possuem sequências que podem ser lidas de forma semelhante a um código de barras em um supermercado. 

Na pesquisa, ninhos dessas três espécies de abelhas sem ferrão foram inspecionados por seis meses, e o mel e o pólen armazenados foram analisados para identificar as espécies de plantas coletadas ao longo desses meses. Os resultados mostram que jataí, uruçu-amarela e mandaguari são de fato abelhas generalistas e podem visitar cerca de 50 espécies de plantas para obter seus carboidratos, proteínas e vitaminas.  

Em geral, as árvores tiveram uma boa representação nos alimentos coletados por essas abelhas, um resultado interessante, já que havia vários arbustos e vegetação herbácea próximos aos seus ninhos, mas, mesmo assim, elas buscavam mais longe algumas árvores floridas, a distâncias de até 600m. As espécies de plantas mais visitadas pertenciam a estes grupos: 1. Myrtaceae, 2. Asteraceae, 3. Euphorbiaceae, 4. Melastomataceae e 5. Malpighiaceae (ver Figura 2 para identificar flores comuns de cada grupo). Os tipos favoritos de plantas tinham flores pequenas e brancas, com grande quantidade de pólen disponível. 

Além disso, apenas analisando o DNA nos estoques de alimento dessas abelhas sem ferrão, foi possível entender mais sobre o comportamento de forrageio delas. As abelhas jataí, por exemplo, coletam pólen de várias espécies de plantas, e por serem abelhas pequenas, é comum que suas operárias procurem alimento sozinhas, encontrando uma variedade de fontes, enquanto outras espécies têm estratégias de recrutamento, direcionando os esforços para uma fonte ótima, como plantas com muitas flores.  

Além de sua importância ecológica, as abelhas sem ferrão têm grande significado cultural e econômico, com práticas de meliponicultura sustentável se tornando mais comuns no Brasil. Considerando as mudanças climáticas em curso, o Cerrado tem enfrentado um intenso desmatamento, e entender as necessidades das espécies nativas, como as abelhas sem ferrão, é essencial para proteger sua biodiversidade. A pesquisa liderada por Martins respondeu a questões importantes e abriu portas para futuros estudos investigando outros biomas, pois as abelhas sem ferrão estão distribuídas por todo o Brasil. 

Referências 

Martins, Aline C., et al. “Contrasting patterns of foraging behavior in neotropical stingless bees using pollen and honey metabarcoding.” Scientific Reports 13.1 (2023): 14474. 

Willmer, Pat. “Pollination and floral ecology.” Pollination and floral ecology. Princeton University Press, 2011. 

Your donation can have a positive impact on the world!
Subscribe to receive our Newsletter!
Find us also at LinkedinFacebookTwitter or Instagram
www.meli-bees.org
❤️

One Reply to “As abelhas sem ferrão viajam longas distâncias para polinizar as árvores do Cerrado ”

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *