Da Neblina aos Lagos: A Fascinante Terra Indígena Balaio

Descubra a inspiradora trajetória de Geovani, um professor da etnia Desana, que transforma vidas na Terra Indígena Balaio. No coração da fascinante região do Pico da Neblina e dos Seis Lagos, Geovani é um guardião da cultura e da educação, trabalhando diariamente para preservar as tradições ancestrais de seu povo. Sua missão é uma poderosa demonstração de conexão com a vida na rica paisagem amazônica.

Autora: Ivi Pauli 
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A Terra Indígena Balaio

Localizado no estado do Amazonas, no município de São Gabriel da Cachoeira, o Território Indígena Balaio é um verdadeiro oásis de biodiversidade e cultura. Próximo ao imponente Pico da Neblina, o ponto mais alto do Brasil com 2.995 metros de altitude, o território se estende pela Serra do Imeri, frequentemente envolta por uma densa neblina que confere uma atmosfera mística e serena ao local. Nas proximidades, encontra-se a deslumbrante região dos Seis Lagos, onde águas cristalinas brilham como jóias entre a exuberante vegetação. Além de encantar visitantes com sua beleza incomparável, a região guarda profundas histórias e conhecimentos ancestrais que enriquecem a cultura e a espiritualidade das comunidades indígenas locais, como os povos Desana e Tukano.

Esses lagos não são apenas pontos turísticos, mas também carregam histórias profundas sobre a origem e o conhecimento de meu povo.

Geovani Desana

Geovani Desana: Educador e Guardião da Cultura na Amazônia

Nesse texto, vamos conhecer o Geovani Arão Maranhão Veloso, um dos dez bolsistas do programa Polinizadores da Rede Meli. Ele é professor indígena e coordenador interno do projeto de segurança alimentar e agroflorestal na Terra Indígena Balaio, situada a 100 km de São Gabriel da Cachoeira, no coração da Amazônia. Enquanto educa os jovens de seu povo, Geovani preserva, com paixão, a cultura e a sustentabilidade em sua comunidade, mostrando como o conhecimento ancestral e a inovação se unem para fortalecer a vida na floresta.

A Família de Geovani e a Origem do Território 

Há cinquenta anos, a comunidade Balaio foi estabelecida por pioneiros como o pai de Geovani, que chegaram ali com as primeiras famílias. Desde então, sua jornada tem sido marcada por lutas e resistência.

Enfrentamos desafios e tentativas de deslocamento, mas nossa determinação nos manteve firmes e unidos até os dias de hoje. Recebemos apoio crucial dos militares e esse apoio externo tem sido essencial para impulsionar nossas iniciativas de sustentabilidade e fortalecer nossa comunidade.”

Geovani Desana

Existem quatro comunidades indígenas distintas convivendo no Balaio, cada uma com sua própria cultura e modo de vida. Os povos Desana e Tukano, por exemplo, compartilham uma rica variedade de tradições, artesanatos e conhecimentos ancestrais que enriquecem sua identidade cultural.

Geovani vem de uma linhagem que exemplifica a diversidade cultural da comunidade. Seu pai, de etnia Desana, e sua mãe, de etnia Tukano, representam o encontro harmonioso de diferentes tradições e modos de vida. Sua avó, uma mulher centenária, é um tesouro vivo de sabedoria ancestral, cujas histórias e experiências moldaram nossa comunidade ao longo das décadas.

Meu pai conta que viemos em busca de boas oportunidades para sustentar nossa família. Antes, nosso povo precisava se deslocar constantemente, buscando alimentos e um local seguro para viver e sustentar as famílias. Quando meu pai e meu avô chegaram aqui, minha avó hoje está perto de completar 100 anos, encontraram aqui um lugar ideal, com terras férteis infinitas. Desde então, nossa subsistência tem sido baseada na caça e na pesca.

Geovani Desana

Preservando e Compartilhando a Cultura Indígena

Na comunidade de Geovani, há uma profunda valorização da cultura e das tradições. As casas de conhecimento, onde a comunidade se reúne, são mantidas com cuidado, e uma horta de plantas medicinais é cultivada para preservar e utilizar o vasto conhecimento curativo das florestas. O compromisso em resgatar e transmitir a língua e as práticas culturais também é evidente nas escolas e nas diversas iniciativas comunitárias dentro do território.

Hoje em dia, pela interferência da cultura do homem branco, nossos jovens não querem mais ser indígenas, querem ser do mundo moderno. Esquecem da sua língua, não querem mais falar, não querem mais saber de nada da cultura. Hoje em dia a gente trabalha muito para isso, para resgatar cultura e língua. A gente trabalha muito na escola, na comunidade, com os pais. A gente trabalha todo mundo junto nisso.

Geovani Desana

Para o povo Desana, a terra é mais do que um lar; é um santuário de biodiversidade e espiritualidade. Aqui, cada dia é uma celebração da vida, marcada por danças tradicionais, festivais e rituais que mantêm viva a conexão com a terra e uns com os outros. Seja em dias de sol ou sob a chuva da floresta, a comunidade floresce com a beleza de sua história e o vigor de sua cultura.

Resiliência em Tempos de Adversidade: O Impacto da COVID-19

Durante a pandemia de COVID-19, a comunidade do Balaio enfrentou desafios significativos. Foi nesse contexto que Geovani liderou a iniciativa para estabelecerem ali um horto medicinal, um projeto que não só fortaleceu a capacidade de cuidar da saúde, mas também reforçou a conexão com a natureza e as tradições curativas desses povos. As plantas medicinais cultivadas ali não são apenas remédios, mas símbolos de resistência e adaptação às adversidades modernas.

No horto perto da nossa casa de conhecimento, é onde plantamos uma variedade de plantas medicinais, porque hoje em dia usamos muito mais esses remédios naturais. Pessoas de fora vêm até nós em busca dessas plantas. Uma das que mais nos marcou durante a pandemia foi a saracura. No início do isolamento, eu estava estudando em São Gabriel, e nossa família se isolou separadamente. Recebemos dos meus pais a saracura, um remédio tradicional muito eficaz, e, felizmente, não tivemos falecimentos por COVID-19 em nossa comunidade nesse período.

Geovani Desana

Foi então que decidiram formalizar o projeto do horto medicinal, que foi aprovado e continua ativo. Dentro desse projeto, criaram uma trilha de plantas medicinais no meio da floresta. Quando alguém de fora visita a comunidade, eles apresentam essa trilha e explicam cada planta, para quem serve e quem não pode usá-la, pois não é qualquer pessoa que pode utilizá-las. Além disso, valorizam muito o conhecimento dos caciques e conhecedores. Algumas doenças sem cura na medicina tradicional ocidental podem ser tratadas com o conhecimento indígena.

Esse projeto das plantas medicinais foi essencial para nossa comunidade. Temos remédios específicos para picadas de cobras e outras necessidades. Esse conhecimento e prática são fundamentais para a nossa sobrevivência e bem-estar. Valorizamos muito esse nosso conhecimento e a comunidade busca sempre preservar e transmitir essa sabedoria.”

Geovani Desana

Um Legado de Resiliência e Sabedoria

A história da Terra Indígena Balaio e de seus habitantes é um testemunho poderoso da resiliência, sabedoria e dedicação às tradições ancestrais. A trajetória de Geovani e seus esforços incansáveis em prol da educação e sustentabilidade são uma inspiração para todos nós, lembrando-nos da importância de preservar e valorizar as culturas indígenas e seus conhecimentos únicos.

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