De Sápmi ao Brasil: Apresentando os sámit e criando conexão com parentes

Que tal mergulhar em uma jornada cultural que vai do Ártico ao coração do Brasil? Neste blog, nossa estagiária Mira compartilha histórias fascinantes sobre seu povo, os Sámi, e momentos inesquecíveis vividos entre os parentes indígenas brasileiros. Venha descobrir como tradições se cruzam e conexões profundas se formam em um intercâmbio único de saberes e experiências!

Autora: Mira Rauhala 
Read in English 

Estou escrevendo este texto do blog como estagiária, realizando um estágio de três meses na Meli-Bees, como parte do estágio EDUFI oferecido pela Agência Nacional de Educação da Finlândia. Sou uma estudante universitária indígena Sámi na Universidade de Oulu, na Finlândia, e meu curso principal é na minha língua materna, o davvisámegiella, a língua Sámi do Norte.

Vim para o Brasil para aprender mais sobre os povos indígenas, trocar conhecimentos indígenas e criar conexões com parentes, indígenas brasileiros. Quando cheguei ao Brasil, não falava muito português. No entanto, durante minha estadia, consegui melhorar minha fluência e aprendi algumas palavras em Mbyá Guaraní também. Fiquei feliz por poder me conectar com os parentes, mesmo sem ter uma língua comum, o que era frequentemente o caso.

No início do meu estágio, estava residindo em Brasília, no centro político do país. Como esta era a minha primeira vez morando em uma grande cidade no exterior, estava ansiosa para sair e explorar a cidade. Mas, depois de me ajustar a um novo país e sua cultura, me senti mais segura e confortável a cada dia. Durante minhas primeiras semanas em Brasília, pude participar de um evento dedicado à pesquisa e ciência indígena. Também visitei o Museu dos Povos Indígenas. Enquanto me sinto afortunada por poder aprender tanto sobre os povos indígenas aqui no Brasil e no continente sul-americano, senti a necessidade de também compartilhar conhecimento sobre meu povo, os sámit. Então, aqui vou compartilhar algumas curiosidades.

Somos um povo indígena ártico e nossa terra, Sápmi, se estende por quatro países: as partes do norte da Finlândia, Noruega, Suécia e, na Rússia, a Península de Kola. Somos o único povo indígena que vive na União Europeia.

Mesa-redonda em um evento em Brasília durante minhas primeiras semanas no Brasil. Primeiro Encontro Internacional: Ciência Indígena e Justiça Climática – Entre a Aldeia e a Universidade.

Dependendo da fonte, existem nove línguas sámi. Minha língua materna, davvisámegiella, o Sámi do Norte, é falada na Finlândia, Noruega e Suécia, sendo a mais falada das línguas sámi. Há uma continuidade geográfica das nossas línguas, onde falantes de línguas vizinhas geralmente conseguem se entender melhor do que falantes de regiões distantes. Além disso, existem muitos dialetos dentro das línguas, o que pode tornar a comunicação mais complexa, mas também mais fácil para falantes de diferentes regiões.

Em relação às nossas línguas, pode-se achar interessante que, de certa forma, não existe uma língua padrão. Cada um fala em seu próprio dialeto. Claro, há algumas regras em relação à língua escrita para mantê-la coesa, mas ainda assim, cada um escreve em seu próprio dialeto dentro das regras comuns. Para novos aprendizes da língua, isso significa que, quando uma pessoa começa a estudar uma língua sámi, ela também começa a aprender um certo dialeto, que muitas vezes é o próprio dialeto do professor.

Tradicionalmente, tudo o que precisávamos vinha da natureza e os meios de subsistência variavam entre a caça, a criação nômade de renas e a pesca em lagos, rios e no mar. Nossa natureza também nos fornece várias frutas silvestres e plantas. No entanto, hoje em dia, a maioria de nós vive de maneiras mais modernas e trabalha em empregos tradicionais.

Provavelmente, nossa vestimenta mais comum, chamada gákti na minha língua, pode contar muitas histórias sobre a pessoa que a usa. Cada uma de nossas línguas tem sua própria palavra para essa peça de roupa. Os materiais do gákti variam dependendo do que está disponível, assim como da estação do ano. A base do design é a família: o gákti indica a que família você pertence. Ele também pode indicar seu status social ou marital. É feito sob medida para a pessoa que o veste, tornando-o uma vestimenta muito pessoal.

Após minha chegada ao Brasil, aprendi sobre pintura com minhas irmãs indígenas. Enquanto fazia uma apresentação sobre meu povo para os parentes, recebi um comentário lindo no final. No comentário, foi feita uma conexão entre o gákti e a pintura: para ela, o gákti de certa forma se assemelhava à pintura. Para mim, isso foi uma representação de troca de conhecimentos culturais da maneira mais bela: como conseguimos encontrar conexões dentro das culturas uns dos outros quando nos unimos.

Uma das razões pelas quais escolhi o Brasil como destino de estágio foi a curiosidade em aprender sobre realidades indígenas fora do Ártico. Tive a sorte de cruzar caminhos com Luiz Felipe Medina Guarani, um jovem líder Guaraní. Com ele, pude me conectar e fazer amizades com parentes das comunidades Guaraní em seu território no estado de Mato Grosso do Sul, onde fizemos uma viagem de campo juntos.

Reunião comunitária na Aldeia Amambai em Mato Grosso do Sul durante nossa viagem de campo.

Durante minha estadia em São Paulo, eu e Luiz também visitamos Campinas, uma cidade vizinha à capital. O motivo da visita foi participar de um seminário na Unicamp, a universidade de Campinas. Durante o seminário, apresentei minha pesquisa pessoal relacionada à minha dissertação de mestrado na Finlândia. A universidade havia ouvido falar sobre nossa visita e gentilmente me convidou para participar de um projeto de arte indígena logo ao lado da universidade. O projeto de arte consistia em várias obras de madeira pintadas lado a lado: cada peça era uma representação de diferentes povos indígenas. Fiquei muito feliz em incluir meu povo no projeto também.

Minha arte Sámi como parte de um projeto de arte indígena na Universidade Unicamp em Campinas. “ČSV” é uma sigla frequentemente usada no ativismo Sámi e comumente traduzida como “Mostrar o Espírito Sámi” (Čájet sámi vuoiŋŋa). 

Aprendi muito sobre a vida indígena no Brasil através dessas amizades. Descobri que existem centenas de grupos indígenas no Brasil, assim como centenas de línguas indígenas, e apenas conheci algumas histórias entre tantas. Quero expressar minha gratidão aos meus amigos locais que tornaram minha jornada no Brasil inesquecível. Sem eles, eu não teria conseguido conhecer o Brasil de uma maneira tão profunda. Sou verdadeiramente grata a todos que, durante este estágio, me fizeram sentir tão bem-vinda.

Your donation can have a positive impact on the world!
Subscribe to receive our Newsletter!
Find us also at LinkedinFacebookTwitter or Instagram
www.meli-bees.org
❤️

One Reply to “De Sápmi ao Brasil: Apresentando os sámit e criando conexão com parentes”

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *