Duas Semanas em Xochimilco: Fortalecendo Legados Ancestrais por Meio da Ação Coletiva

Nas últimas duas semanas, estivemos em campo no México, co-criando nossa próxima iniciativa ao lado de líderes chinamperos em Xochimilco. Esses guardiões de um sistema agroflorestal centenário enfrentam desafios ambientais e socioeconômicos urgentes. Trabalhando de mãos dadas com líderes indígenas, cooperativas locais e aliados da sociedade civil, a Meli está desenvolvendo um projeto multifacetado que visa não apenas regenerar o ecossistema de Xochimilco, mas também empoderar as pessoas que o protegem. Essa jornada foi sobre escutar, aprender e construir algo significativo — juntos.

Autora: Laura Soto

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Caminhando ao Lado dos Guardiões de Xochimilco

Xochimilco é um dos últimos vestígios vivos de uma prática agrícola ancestral que antecede a colonização. As chinampas — canteiros elevados construídos sobre lagos rasos — fazem parte de um sofisticado sistema agroecológico desenvolvido pelos Mexicas e outras civilizações indígenas no Vale do México. Hoje, os chinamperos, agricultores que continuam essa tradição, carregam a responsabilidade de manter uma prática que nutre tanto a terra quanto a cultura.

Nossa equipe viajou a Xochimilco para unir forças com esses guardiões e planejar a próxima fase do nosso trabalho no México. Por gerações, os chinamperos preservaram esse sistema agroflorestal, cultivando alimentos em harmonia com a natureza. No entanto, com o avanço das mudanças climáticas, o crescimento urbano e a falta de políticas públicas que apoiem pequenos produtores, esse ecossistema único está agora seriamente ameaçado.

Para além de seu valor cultural, Xochimilco é uma zona úmida vital que sustenta o meio ambiente e a população da Cidade do México. Ela oferece serviços ecossistêmicos essenciais, como purificação do ar, controle de enchentes, regulação da temperatura e manutenção do ciclo da água. Não é exagero dizer que proteger Xochimilco é proteger o futuro da capital.

E ainda assim, o futuro das chinampas está em risco. Segundo a SEMARNAT (2020), cerca de 80% das chinampas estão atualmente abandonadas. As novas gerações estão cada vez mais se afastando desse modo de vida, desencorajadas pela falta de apoio institucional, pelo difícil acesso ao mercado e pelos obstáculos para conseguir certificações verdes ou selos ecológicos. Isso torna quase impossível para os chinamperos obter uma renda justa e sustentável, mesmo oferecendo tanto às suas comunidades e ao ecossistema mais amplo.

Apesar desses desafios, há também uma incrível resiliência. Alguns jovens estão determinados a recuperar esse legado e restaurar o que foi negligenciado. É com esses líderes que a Meli está trabalhando — co-criando um projeto de longo prazo que apoia a regeneração das chinampas, fortalece as economias comunitárias e promove práticas agroecológicas enraizadas em sabedorias ancestrais.

Nosso enfoque é profundamente colaborativo. Estamos entrelaçando esforços com líderes indígenas, cooperativas, organizações juvenis e defensores de políticas públicas para garantir que as soluções sejam verdadeiramente regenerativas e sustentáveis — social, econômica e ecologicamente.

Promovendo o Cooperativismo para uma Transformação Sistêmica

Durante nossa estadia, fomos convidados a participar do “Foro por un México Solidario: El Cooperativismo en el Marco de la Construcción del Sistema Nacional de Cuidados”, realizado na Câmara dos Deputados, na Cidade do México. Este fórum reuniu organizações, formuladores de políticas e líderes comunitários para discutir o futuro do cooperativismo no México — especialmente no contexto do cuidado, da regeneração ambiental e da resiliência comunitária.

Entramos nesse espaço para explorar como modelos cooperativos podem apoiar os chinamperos de Xochimilco. Acreditamos que o cooperativismo não é apenas uma ferramenta econômica — é uma filosofia de apoio mútuo e responsabilidade compartilhada. Para comunidades como as de Xochimilco, que enfrentam marginalização sistêmica e falta de investimento público, a formação de redes cooperativas fortes pode ajudar a construir estabilidade econômica, preservando ao mesmo tempo o conhecimento tradicional e as práticas ecológicas.

Foi inspirador ver tantas vozes se unindo em defesa de economias centradas no cuidado — incluindo aquelas que reconhecem a regeneração ambiental e a soberania alimentar como parte fundamental de uma estratégia nacional de cuidados.

Valorizando as Línguas e Lideranças Indígenas

Nosso tempo na Cidade do México também nos permitiu aprofundar o diálogo com líderes indígenas que trabalham pela preservação e revitalização do patrimônio linguístico e cultural.

Uma dessas vozes é Minerva Sánchez, ativista indígena e integrante do Conselho de Representantes das Comunidades Indígenas e Afro-Mexicanas residentes na capital. Minerva é uma defensora incansável da proteção e revitalização das línguas indígenas do México. Segundo o Instituto Nacional de Línguas Indígenas (INALI), existem 68 línguas originárias e mais de 3.200 variantes linguísticas faladas no país — muitas delas em risco de desaparecer.

Minerva nos lembrou que a língua não é apenas comunicação; é memória, identidade e resistência. Quando perdemos uma língua, perdemos uma cosmovisão única, um conjunto de ensinamentos ancestrais e uma conexão vital com a terra e a comunidade.

Graças ao seu convite, a Meli participou do programa Radio Mx, con Sentido Social, onde tivemos a oportunidade de compartilhar nosso trabalho e falar sobre a importância de reforçar a educação em comunidades indígenas. Apresentamos a missão da Meli de empoderar lideranças indígenas e locais por meio da criação de projetos comunitários. Também abordamos nosso compromisso em unir diferentes partes interessadas — sociedade civil, governos, universidades e juventudes — para fortalecer a autonomia e autodeterminação dessas comunidades.

O Compromisso Contínuo da Meli no México

Nossa jornada no México nessas duas últimas semanas foi apenas o começo de um compromisso mais amplo e profundo. À medida que caminhamos ao lado do povo de Xochimilco e de outras comunidades indígenas e locais, seguimos escutando, adaptando e co-criando soluções que refletem suas realidades e aspirações.

Diante da perda ecológica, da erosão cultural e das desigualdades econômicas, o caminho adiante deve ser construído com cuidado, respeito e ação coletiva. Na Meli, acreditamos que futuros regenerativos são possíveis — porque já estão sendo imaginados e cultivados pelas próprias comunidades que há séculos protegem o planeta.

Juntos, continuaremos a semear as sementes da transformação.

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