O Legado de Rômulo Omágua-Kambeba: Unindo Música e Ecologia para Preservar a Cultura Indígena no Alto Solimões

O carismático ativista Omágua-Kambeba Rômulo, com seu projeto ‘Olho d’Água’, está reinventando a preservação cultural e ambiental no Alto Solimões. Descubra a fusão única de música indígena e educação ecológica que promete inspirar as futuras gerações a proteger suas raízes e o meio ambiente.

Autora: Ivi Pauli 

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Rômulo é um líder agregador e ativista incansável de Santo Antônio do Içá, no Amazonas, dedica-se apaixonadamente à preservação do patrimônio indígena. De ancestralidade Omágua-Kambeba, vivendo em contexto urbano, Rômulo tem passado décadas empoderando sua comunidade, ensinando música e promovendo a conscientização ecológica entre mais de 100 jovens. Em busca de reconexão com suas raízes, essa jornada o inspira a multiplicar o sentimento de pertencimento entre seus parentes. Sua trajetória é um exemplo de compromisso firme com a preservação cultural e ambiental, inspirando gerações a valorizar e proteger suas raízes e a natureza por meio da arte.

Alto Solimões: Conexões Transfronteiriças e Comunidades Vibrantes

O Alto Solimões é uma região rica em diversidade cultural e ecológica, situada na Amazônia brasileira. Composta por três principais localidades – Alto Rio Solimões, Médio Rio Solimões e Baixo Rio Solimões – essa região é parte integral do Rio Amazonas, que nasce no Peru e atravessa a fronteira com a Colômbia. “Nós estamos interligados culturalmente também com o Peru e com a Colômbia, que fica aqui na fronteira com Tabatinga, Atalaia do Norte, Bejamim Constant, que são as três cidades aqui do nosso território”, explica Rômulo, destacando a conexão transfronteiriça. 

Ele descreve a cidade de Tabatinga como uma fronteira movimentada, enquanto Atalaia do Norte, chamada de “cidade do jambo”, por suas abundantes árvores de jambo, está dentro da floresta, no rio Javari, onde vivem os indígenas isolados. Rômulo conta com carinho sobre sua terra natal, São Paulo de Olivença, e a jornada até sua atual residência em Santo Antônio do Içá, revelando a complexidade e a riqueza de sua região. “Se você for de canoa, vai demorar aí uns dois dias remando para chegar na minha cidade”, ele diz, ilustrando a proximidade e a intimidade com o rio que permeia a vida local. O Alto Solimões, com seus nove municípios, abriga cerca de 220 a 230 mil pessoas, incluindo diversas nações indígenas, formando um mosaico vibrante de culturas e histórias.

A Jornada de Rômulo em Busca de Suas Raízes

Rômulo de Souza Elias, também conhecido como Rômulo Vate (Vate = poeta), iniciou sua jornada de reconexão com suas raízes indígenas de maneira tocante e singular. Seu contato com a cultura indígena começou em São Paulo de Olivença, por meio de uma vizinha da nação Ticuna. “Eu sempre ia comer peixe na casa dela, e ela me contava as histórias Ticunas,” recorda Rômulo. Esse contato despertou uma curiosidade profunda sobre sua própria ascendência. Inicialmente, Rômulo acreditava ser Ticuna, mas uma pesquisa realizada por seu familiar, Tourinho, revelou que sua bisavó, Clara, falava Nyengatu e a língua Kambeba. 

A busca de Rômulo pela identidade Kambeba o levou a descobrir um movimento de resgate cultural. Ele relata: “O meu tio conseguiu colocar alguns indígenas Kambeba para fazerem um resgate junto à Universidade do Estado do Amazonas.” Esse trabalho culminou na criação da Organização Kambeba do Alto Solimões (OKAS). Rômulo se envolveu em um esforço coletivo de valorização cultural, com a fundação de associações Kambeba na região em que vive. No entanto, sua jornada não foi fácil. Em Santo Antônio do Içá, enfrentou desafios para afirmar sua identidade. “Algumas nações queriam que eu fosse Caixana ou Kokama. Mas eu sempre dizia, eu sou Kambeba, e Kambeba também é chamado de Omagua,” afirmou. A firmeza em manter sua identidade foi crucial para seu fortalecimento espiritual por meio da conexão com suas origens.

Resistência e Esperança na Herança Kambeba

A história dos Kambeba é marcada por dor e resistência. Nos séculos XVI e XVII, a nação enfrentou intensa perseguição, levando muitos a se esconderem e a não se identificarem como Kambeba. Rômulo recorda histórias de crueldade enfrentadas por seus antepassados, como a violência dos fazendeiros da borracha que assassinavam indígenas. “Os donos da borracha pediam para o indígena subir no pé de açaí e, quando estavam com o açaí na mão, davam um tiro de espingarda,” conta ele. Apesar dessas adversidades vividas por seus ancestrais, Rômulo encontrou força e inspiração em sua herança cultural. Descobriu que os Kambebas eram conhecidos como excelentes construtores e artesãos. “Os Kambebas tinham esse adjetivo bem forte, que é o construtor de casa, de canoa,” explica. Sua jornada é um testemunho de resistência e esperança, refletindo a importância de conhecer e celebrar nossas origens.

Hoje, Rômulo continua seu trabalho de resgate cultural com determinação, buscando fortalecer a identidade Kambeba em seu território e além. “Eu quero beber dessa ancestralidade, até para entender melhor de onde eu vim,” diz ele. Através de suas ações, Rômulo inspira outros a valorizarem suas raízes e a preservarem a história de suas nações, celebrando a resistência e a riqueza cultural dos Kambeba.

A Influência Africana na Cultura do Alto Solimões e na Musicalidade Indígena

A rica tapeçaria cultural do Alto Solimões revela uma fascinante integração das influências africanas e indígenas, especialmente visível na dança do cordão do africano em São Paulo de Oliveira. Essa manifestação cultural não só preserva, mas também celebra as raízes africanas na região, evidenciada pela máscara adornada e um imponente chapéu que remete ao cabelo africano. A dança é um espetáculo de cores e ritmos que ilustra a interação entre a tradição africana e a estética local, criando um símbolo poderoso de identidade cultural.

A musicalidade também serve como um ponto de convergência entre essas duas tradições. A dança incorpora ritmos de tambores que, embora tenham uma batida africana, são construídos com materiais indígenas como o couro da capivara e da onça, destacando a inovação que surge da fusão cultural. Instrumentos indígenas, como o ganzá, são igualmente fundamentais, refletindo como os sons da floresta e a percussão indígena são imitados e adaptados para criar uma musicalidade singular.

Música e Educação Ambiental: O Projeto Olho d’Água

Rômulo está transformando a preservação cultural e a educação ambiental através do projeto “Olho d’Água”. Dedicado a resgatar e valorizar a musicalidade indígena, ele utiliza o aprendizado musical como uma ferramenta essencial para ensinar às crianças a importância da cultura e da ecologia. Com a construção de um estúdio para gravação e preservação dos sons tradicionais, Rômulo garante que esses conhecimentos sejam transmitidos às novas gerações, mantendo vivos os ritmos e canções ancestrais.

Além de preservar a musicalidade, o projeto também promove uma educação ambiental prática e envolvente. As crianças são incentivadas a explorar e entender a natureza através de atividades que conectam a música à ecologia. Esse método ressoa com o espírito de Tom Jobim, que na bossa nova buscava inspiração nos sons naturais. Quem sabe, em breve, veremos o surgimento de um grande ambientalista ou músico surgindo dessas novas gerações, preparadas para serem tanto guardiãs de sua herança cultural quanto protetoras do meio ambiente.

A Visão de Rômulo como Polinizador da Regeneração

Rômulo vê a solução para reverter o esgotamento dos recursos naturais como um esforço colaborativo e valorização do conhecimento. Ele destaca a importância da união e do fortalecimento de parcerias através da educação e orientação, acreditando firmemente que “quem tem conhecimento tem tudo.” Com iniciativas como o Programa Polinizadores da Meli, Rômulo enxerga uma chance para restaurar o equilíbrio ecológico, promovendo não só a regeneração da natureza, mas também a criação de renda sustentável. Em sua visão, a médio e longo prazo, essas iniciativas terão um impacto positivo significativo, ajudando a restaurar o equilíbrio ambiental e oferecendo alternativas sustentáveis para as comunidades locais.

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