Oficina Agroflorestal na Aldeia Galheiro Novo

Uma oficina de agrofloresta guiada pela sabedoria Krahô, combinando conhecimentos tradicionais e práticas sustentáveis para preparar o plantio futuro, fortalecendo a resiliência, a soberania alimentar e a gestão ambiental. 

Autores: Ana Rosa, Paulo Henrique Nenevê e Rômulo Araujo 
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A convite da Cruwakwyj (Crû) Krahô, bolsista do Programa Polinizadores, Paulo Henrique Nenevê, Rômulo Araújo e Ana Rosa visitaram a aldeia Galheiro Novo na Terra Indígena Krahô, localizada no estado do Tocantins, Brasil, de 18 a 22 de agosto. Essa oficina foi um passo fundamental para fortalecer a autonomia, a resiliência e a soberania alimentar do povo Krahô, preparando o terreno para uma próspera temporada de plantio durante o período chuvoso. Essas atividades foram possíveis graças ao apoio da Postcode Loterie, bem como ao financiamento do Programa de Polinizadores do Meli, com contribuições de parceiros como o Tamalpais Trust.

Uma oficina baseada em colaboração e preparação 

A oficina enfatizou abordagens práticas e teóricas, profundamente informadas pelo conhecimento e pelas tradições do povo Krahô. As atividades se concentraram na expansão do acesso da comunidade ao material genético por meio da coleta de sementes, estacas e ramas para diversidade, reprodução e garantia de armazenamento adequado para uso futuro. A equipe também trabalhou no armazenamento e na propagação de estacas para manter a disponibilidade de recursos a longo prazo. 

O primeiro dia da oficina foi concentrado em entender a área e a realidade locais, como as condições do solo, os recursos disponíveis, o envolvimento da comunidade e as práticas atuais de plantio.  

A visita às áreas de plantio Krahô foi essencial para iniciar a coleta de sementes, estacas e ramas, além de permitir aos especialistas em agrofloresta aprender sobre as técnicas de plantio Krahô e promover discussões integrando-as à teoria agroflorestal. 

Essa abordagem permitiu que os especialistas avaliassem o potencial local e estabelecessem as bases para uma parceria sólida de longo prazo com os Krahô. 

Paulo e Rômulo compartilharam práticas para armazenar estacas e ramas e utilizaram as coletadas anteriormente, juntamente com as que eles mesmos trouxeram. Já na tarde do primeiro dia, foi estabelecida uma área onde as estacas e ramas possam ser armazenadas vivas. O local conta com um acesso básico a água e fica perto da casa de Hyjno e Cruwakwyj, sendo conveniente para a manutenção necessária que será feita por eles, que assumiram a responsabilidade de manter essa casa viva de sementes. 

Foram compartilhadas também práticas para reconhecer e armazenar sementes que tem uma viabilidade maior. Dessa forma os próprios Krahô receberam as ferramentas para desenvolver e manter suas casas de semente. Como um exemplo disso foi feita a limpeza das sementes de tomates que, com essa simples prática, já podem ser armazenadas por um período maior do que o usual.

No segundo dia a área de plantio foi selecionada e podas foram feitas e seu preparo foi iniciado, como a poda para aumentar a saúde das árvores florestais já estabelecias. Como parte de identificar, preservar e acumular recursos locais existentes, os participantes foram orientados a maximizar a utilização de recursos como esterco de animais, cinzas de fogueiras e materiais oriundos de podas. Todo esse material orgânico foi distribuído como preparação do solo para o plantio durante o período de chuva e disposto de forma que a sua decomposição acontecerá de forma benéfica tanto para culturas agrícolas, como florestais. 

No mesmo dia foi também compartilhada a técnica JADAM para preparar uma solução rica em microrganismos usando solo saudável como ingrediente principal. Essa solução melhora a saúde do solo e, como os Krahô têm acesso a um solo florestal saudável e abundante, eles puderam reconhecer o imenso valor desse recurso prontamente disponível. 

No terceiro dia demos continuidade à preparação de da área de plantio, já utilizando o material preparado pela metodologia JADAM. Os facilitadores compartilharam mais métodos para aumentar a fertilidade do solo usando técnicas locais e sustentáveis. Nesse dia também tivemos a visita da escola local e os próprios participantes da oficina atuaram como multiplicadores de conhecimento e compartilharam conceitos agroflorestais com os jovens, introduzindo aos jovens o método JADAM. 

Abordagem holística  

Estar aberto para conhecer, respeitar e se maravilhar com a cultura indígena é chave para o sucesso das atividades da Meli – durante uma oficina presencial isso é ainda mais forte. O aprendizado esteve presente durante cada troca que tivemos com os Krahô, tanto ao decorrer da oficina, como durante passeios pelo território e ao redor das fogueiras no fim de cada dia. 

Tivemos a oportunidade de conhecer mais sobre a história da aldeia Galheiro Novo e das aldeias próximas ao ouvir os mais velhos da comunidade, que compartilharam sua sabedoria durante caminhadas pelas aldeias. 

O envolvimento das crianças e jovens foi outro elemento central da oficina. As crianças da comunidade estavam presentes durante a oficina, brincando com a biodiversidade local e ouvindo as trocas acontecendo ao lado delas. Por meio da escola local, os jovens também estiveram presentes e fizeram pontes para aumentar o contato com a Meli como um todo. Essa integração promoveu um senso de pertencimento e continuidade entre gerações. 

A aldeia Galheiro Novo demonstrou também uma linda tradição: se juntar ao redor da fogueira no final de cada dia. A lua deixou o ambiente ainda mais deslumbrante e combinadas com as histórias e cantorias que foram compartilhadas, seria impossível não se emocionar. 

Todas essas trocas foram coroadas no fim da tarde do terceiro dia, quando tivemos uma reunião para ouvir a avaliação da oficina feita pelos participantes seguida de uma pequena festa de encerramento. A aldeia Galheiro Novo nos mostrou um pouco da cultura Krahô: fomos presenteados com um prato típico e honrados com sua pintura corporal. 

Como conclusões dessa oficina podemos destacar (1) Crû demonstrou felicidade pela participação feminina, que ela disse ter sido bem maior que na maioria das atividades anteriores; (2) os participantes reportaram ameaças devido a invasões de não indígenas no território; (3) a comunidade enfrenta desafios por faltas estruturais no território, como energia, água e saneamento básico; (4) a comunidade vislumbra projetos de baixo custo para prender os porcos, fazer banheiros secos para evitar os ciclos de parasitas pela falta de saneamento básico.

Resiliência por meio da agroecologia 

Essa oficina foi mais do que um momento de aprendizado; foi o início de uma parceria sólida entre o saber tradicional Krahô e técnicas agroecológicas. O trabalho iniciado aqui continuará a fortalecer a resiliência e a soberania alimentar do povo Krahô, destacando o papel essencial de comunidades indígenas na preservação ambiental e no desenvolvimento sustentável.

Na manhã do dia seguinte a oficina nos despedimos já com saudades dos momentos tão especiais que vivemos no território Krahô.

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