No coração de Teotitlán del Valle, uma comunidade indígena zapoteca vibrante e ancestral, ergue-se uma história de resistência e amor pela terra.

Autor: Gabino Damián Jiménez Martínez 
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Essa história começa em 1985, quando um conflito pela posse de um terreno em “Læn gwer duub” desencadeou uma decisão transcendental: em vez de ceder a interesses individuais, a assembleia comunitária, máxima autoridade do povo, decidiu transformar o terreno em um Centro de Reflorestamento dedicado a restaurar o ecossistema local. 

Durante décadas, o Centro de Reflorestamento permaneceu em silêncio, até que em 2025 o governo municipal escolheu os novos integrantes deste comitê. Assim se formou um grupo de jovens da comunidade com um profundo senso de responsabilidade ambiental e cultural. Guiados pela paixão e pelo compromisso, assumimos o desafio de reviver não apenas um espaço físico, mas também o espírito de conservação dos nossos ancestrais. 

O trabalho do Comitê do Centro de Reflorestamento tem sido incansável e profundamente enraizado nos valores de respeito e harmonia com a natureza. Um dos maiores desafios foi enfrentar o impacto das espécies invasoras, especialmente os eucaliptos — árvores originárias da Austrália que haviam secado uma nascente vital para a fauna local e para a comunidade. Conscientes da sua importância espiritual e ecológica, o comitê decidiu reabilitar esse corpo d’água, que um dia abasteceu nossos ancestrais e sustentava a biodiversidade da região. 

O processo não foi simples. Primeiro, tivemos que elaborar uma solicitação bem fundamentada para obter a aprovação do governo municipal, do Comissariado de Bens Comunais, do Conselho de Vigilância e do Comitê de Fomento Florestal, que nos ofereceram orientação técnica. Cada passo foi guiado pela convicção de que estávamos trabalhando pelo bem comum. Respeitando nossas raízes zapotecas, realizamos cerimônias para pedir permissão às próprias árvores de eucalipto, pedindo desculpas e permissão para removê-las e aproveitar sua madeira em benefício da comunidade. 

O primeiro eucalipto caiu em março, em colaboração com o comitê de pais da Escola de Ensino Médio Comunitário, utilizando a madeira para construir mesas e bancos nesse centro educativo. Foi um ato simbólico que marcou o início de uma nova etapa para o Centro de Reflorestamento, onde cada árvore removida representava um passo rumo à restauração do equilíbrio ecológico. 

Com o apoio de uma motosserra cedida pela autoridade municipal, continuamos removendo árvores e fabricando móveis como um depósito para o Centro, além de mesas e bancos na área, para que as pessoas possam conviver nesse espaço. 

Não faltaram críticas e desânimo, pois alguns não compreendiam por que um Comitê de Reflorestamento estaria cortando árvores. No entanto, nossa convicção era firme: estávamos salvando um ecossistema. A comunicação constante com a comunidade, explicando nossas ações e seus benefícios a longo prazo, foi fundamental para conquistar seu apoio e confiança. 

A recompensa chegou em maio, quando, após as primeiras chuvas, a água começou a renascer na nascente. Não era apenas água da chuva; era a própria fonte voltando à vida — um testemunho vivo do impacto positivo do nosso trabalho. Ver a água fluir novamente foi um momento de profunda emoção e gratidão, um lembrete de que a natureza responde quando é cuidada com respeito e dedicação. 

Ainda restam eucaliptos para remover, e o caminho é longo, mas a esperança está viva. Este projeto não busca apenas restaurar o habitat de espécies como os veados que vivem em nossos montes e descem para beber água na região, mas também criar um espaço educativo onde as novas gerações possam se reconectar com seu legado ecológico e cultural. 

Em Teotitlán del Valle, a terra e a água contam histórias de resiliência; nós somos seus guardiões e narradores. O trabalho do Comitê do Centro de Reflorestamento é um legado de amor pela natureza e um compromisso inabalável com o futuro da nossa comunidade.