As abelhas sem ferrão são trabalhadoras muito organizadas e atarefadas: Como elas compartilham suas funções diárias?

As abelhas sem ferrão são um grupo muito diverso de abelhas tropicais com algumas espécies semelhantes em tamanho a uma mosca-das-frutas e outras maiores que uma abelha melífera. Essas abelhas nativas têm uma variedade de comportamentos que realizam diariamente para garantir que a colônia esteja estruturada, tenha comida suficiente e esteja segura contra predadores. Mas como os insetos sociais definem quem é responsável por cada um desses comportamentos?

Autora: Ana Paula Cipriano
Read in English

Os insetos sociais são conhecidos por viverem em grandes ninhos e executarem diferentes tarefas. Por exemplo, ao caminhar perto de um ninho de formigas cortadeiras, pode ser possível ver muitas trabalhadoras carregando folhas de volta para casa e, se as formigas detectarem os visitantes como uma ameaça, outro tipo de comportamento pode ser exibido: um ataque na forma de uma mordida dolorosa. Essa divisão organizada do trabalho tem mantido o sucesso dos insetos sociais por milhões de anos.

Um aspecto essencial da divisão do trabalho em insetos sociais é a idade: as abelhas começam a trabalhar dentro do ninho e, com o tempo, estão prontas para atividades mais arriscadas, como explorar os arredores para proteger seus ninhos e coletar recursos.

Seguindo uma linha do tempo cronológica, nos primeiros dias, as operárias basicamente recebem alimento e realizam comportamentos higiênicos. Em seguida, o trabalho inicial que desempenham nos ninhos é construir diferentes estruturas como potes para armazenar alimentos e cria, além de produzirem cera. Na próxima etapa, as abelhas começam a cuidar das crias, enchendo suas células com alimento. Nesta fase, elas também podem alimentar a rainha e algumas até trabalham como uma corte real em torno da rainha.

Rainha e operárias da abelha sem ferrão uruçu-amarela (Melipona flavolineata). Foto retirada do site da instituição A.B.E.L.H.A (abelha.org.br) e de autoria de Cristiano Menezes.

Seguindo a linha do tempo, as operárias começam a coletar o néctar trazido para o ninho por suas companheiras para produzir mel. Além disso, algumas operárias trabalham com os resíduos dentro da colônia: elas organizam pilhas de detritos para serem descartadas do lado de fora, por operárias mais velhas. Finalmente, após algumas semanas, as abelhas começam a fazer voos curtos para reconhecer a vizinhança próxima ao ninho, os voos de orientação.

As abelhas mais velhas têm mais experiência e começam a trabalhar como guardas e a coletar recursos. As guardas protegem a colônia de predadores como aranhas ou de abelhas que podem roubar seus recursos, como a “abelha limão”, e ainda detectam operárias da mesma espécie que podem tentar invadir seus ninhos. As guardas podem ficar localizadas dentro ou fora do ninho.

Por fim, geralmente após 4 semanas, as abelhas têm a função de sair do ninho e procurar flores para obter alimento para suas colônias. Neste ponto, elas já estão bem preparadas para executar essa tarefa desafiadora. Em particular, elas podem ter um aumento nas estruturas em seu cérebro e antenas que ajudam na percepção de seu ambiente.

Abelha sem ferrão “Jataí-da-terra” (Paratrigona subnuda) visitando flores de morango para coletar pólen. Foto tirada da instituição Embrapa (www.embrapa.br) e de autoria de Kátia Sampaio Malagodi-Braga.

Quando as operárias retornam ao ninho com recursos, elas podem seguir dois trajetos diferentes: se tiverem pólen, elas mesmas o depositarão em um pote, mas se coletarem um recurso líquido, como néctar, provavelmente o transferirão para uma abelha mais jovem. Curiosamente, diferentes abelhas podem se especializar na coleta de um tipo de recurso; estes podem ser pólen e néctar, mas também água, barro ou resina.

Embora essa divisão do trabalho possa ser compartilhada por muitas espécies de abelhas sem ferrão, sempre há diferentes possibilidades para manter as colônias funcionando e as abelhas podem ter flexibilidade nesses comportamentos de acordo com as necessidades da colônia. Assim, se elas precisarem de mais comida ou perderem um número considerável de forrageiras, as operárias podem começar a trabalhar fora do ninho mais cedo para garantir seu abastecimento. Também é possível ter diferentes papéis; por exemplo, as abelhas Jataí têm soldados que são maiores que as operárias regulares e não se tornam forrageiras, elas terão a mesma função até o fim de suas vidas. Além disso, algumas operárias podem nunca realizar atividades fora da colônia e apenas contribuir para atividades relacionadas à construção, limpeza e alimentação de outras abelhas.

Abelhas sem ferrão Jataí (Tetragonisca angustula) guardas pairando ao redor do tubo de entrada. Foto de autoria de Christoph Grüter.

Organizadas e trabalhadoras, as abelhas sem ferrão conseguem executar todas as tarefas necessárias para fornecer alimento e abrigo para centenas de operárias. A incrível diversidade de espécies nativas de abelhas sem ferrão favorece o estudo de diferentes comportamentos e a manutenção do importante papel ecológico e cultural desses pequenos insetos. Aprender mais sobre polinizadores nativos e fomentar iniciativas para preservar suas populações é essencial para um meio ambiente mais saudável.

Bibliografia

Hölldobler, B., & Wilson, E. O. The leafcutter ants: civilization by instinct. WW Norton & Company, 2010.

Grüter, C. Stingless bees: their behaviour, ecology and evolution. Springer Nature, 2020.

A sua doação faz toda a diferença!
Vamos manter o contato!
Pode nos encontrar também no LinkedinFacebookTwitter ou Instagram 
www.meli-bees.org

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *