A meliponicultura como agente de conscientização ambiental

A conscientização sobre a importância das abelhas sem ferrão ao meio ambiente tem induzido moradores da cidade de Parauapebas/PA a se tornarem meliponicultores.

Autora: Daniela Ribeiro
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A Meliponicultura, que consiste na criação de abelhas sem ferrão, é uma atividade importante para a região amazônica por ser considerada uma boa alternativa para o melhor uso das terras amazônicas. Considerando a relevância da meliponicultura, é importante realizar levantamentos do perfil da atividade de uma região para entender melhor o seu estado e, assim, conduzi-la de forma mais adequada. 

Foi realizada a caracterização do perfil da meliponicultura dm Parauapebas, cidade situada no sudeste paraense, próximo à Floresta Nacional de Carajás (FLONA),onde está situada a Mina de Carajás, a maior mina de minério de ferro do mundo. A pesquisa foi conduzida para a elaboração do meu Trabalho de Conclusão do curso de Agronomia da Universidade Federal Rural da Amazônia campus de Parauapebas.

Para o levantamento, obtivemos o contato de 15 meliponicultores para a entrevista por meio da Secretaria Municipal de Produção Rural (SEMPROR) e Associação Filhas do Mel da Amazônia (AFMA). O questionário aplicado tinha como objetivo obter informações diversas acerca da criação de abelhas sem ferrão no município. A seguir, descreverei os principais resultados acerca das características da meliponicultura da cidade de Parauapebas/PA.

Meliponicultura em Parauapebas

Os meliponários estão presentes principalmente na zona rural, mas também podem ser encontrados, na zona urbana da cidade, ainda que em menor proporção. Isso é chamado de Meliponicultura Urbana. 

Uma das principais finalidades de criação se refere à conservação das abelhas sem ferrão. Isso evidencia a consciência ecológica dos moradores que, por entenderem a importância que estes animais possuem para o meio ambiente, praticam a meliponicultura. Além da conservação das abelhas sem ferrão, o consumo do mel e meio de lazer também são objetivos frequentemente levantados pelos meliponicultores como finalidade. Esse resultado reflete as propriedades medicinais do mel e a facilidade de manejo das abelhas sem ferrão, o que leva a muitos afirmarem que a atividade gera bem-estar e é terapêutica.

Dessa forma, a meliponicultura se destaca como uma ótima ferramenta para educação ambiental. Não só promove a conscientização sobre a preservação de recursos naturais, como as abelhas sem ferrão, mas também oferece facilidade de manejo. Isso permite que pessoas de todas as idades, desde crianças até idosos, possam se envolver com essa atividade como uma fonte de lazer e aprendizado, mesmo em áreas urbanas.

Algo muito interessante visto durante as visitas foi a propriedade de um dos meliponicultores, o qual iniciou a atividade recentemente, mas já apresenta uma considerável quantidade de colmeias. O seu plantel de abelhas sem ferrão fica na mesma área do pomar de limoeiro, e foi levantado pelo criador que, após a introdução das abelhas na área, a produtividade do seu pomar aumentou significativamente, ao ponto de galhos quebrarem por conta do peso dos frutos. É possível ver na prática os benefícios que a meliponicultura trás não só diretamente, com a produção de mel e colônias, mas também com benefícios indiretos como a polinização. Tais indícios evidenciam que a atividade é uma boa alternativa para a associação com a agricultura, além do serviço ecológico de polinização das matas nativas que as abelhas prestam.

Meliponário na área de pomar de limoeiro.
Fonte: Daniela Ribeiro

É comum entre os meliponicultores também a prática da apicultura, sendo que alguns deles têm por meio dessa atividade sua principal fonte de renda. Além disso, a Associação Filhas do Mel da Amazônia (AFMA), embora seja mais voltada para a comercialização de mel de abelhas Apis, também oferece suporte aos criadores de abelhas sem ferrão. Eles doam caixas para a multiplicação dos ninhos e participam de feiras para vender mel proveniente tanto da apicultura quanto da meliponicultura. Além da ajuda da Associação, muitos meliponicultores recebem assistência técnica por meio da SEMPROR.

Para a maioria dos criadores, a atividade é uma fonte complementar de renda, obtida a partir da comercialização do mel e das colônias. Porém, há também meliponicultores que não adquirem renda por meio da atividade, praticando a criação pelos motivos já apresentados acima. Isso reforça mais uma vez o benefício da criação de melíponas no bem-estar do criador, pois mesmo sem a presença de renda, é comum o desenvolvimento da atividade em Parauapebas.

Entre os meliponicultores de Parauapebas, há criadores que iniciaram na atividade há pelo menos 15 anos, mas boa parte deles exercem a meliponicultura há poucos anos. Ou seja, começaram a criação de abelhas sem ferrão recentemente, o que pode ser resultado da maior divulgação na mídia sobre a meliponicultura, e maiores ofertas de cursos, principalmente na modalidade online. De fato, a maioria dos criadores já tiveram algum acesso à capacitação. A disponibilização de cursos gratuitos na área é uma excelente ferramenta para o fortalecimento da atividade, pois ao mesmo tempo que alcança novos interessados na criação, qualifica também aqueles que já praticam a meliponicultura.

Logo da Associação Filhas do Mel da Amazônia
Fonte: Rosemir

Sobre a obtenção de colônias de abelhas sem ferrão, o meio de obtenção inicial para iniciar a criação das espécies mais comuns foi o resgaste. Essa prática consiste na retirada da natureza de colônias que estejam em árvores caídas. Esse método pode ser considerado sustentável, já que sua utilização não acarreta em degradação ambiental com a derrubada de árvores, por exemplo. Essa informação evidencia novamente a preocupação e responsabilidade existente entre os meliponicultores em preservar o meio ambiente, não se valendo de métodos agressivos de coleta de abelhas sem ferrão.

A espécie de abelha sem ferrão mais utilizada para criação é a Melipona seminigra (Uruçu boca-de-renda). De acordo com o Catálogo Nacional de Abelhas-Nativas-Sem-Ferrão, instituído pela Portaria N°665, de 3 de novembro de 2021, esta é uma espécie que tem o estado do Pará como sua região de ocorrência natural. Para o sucesso da meliponicultura e consideração com a conservação das espécies, é de suma importância que as abelhas escolhidas estejam na sua área de ocorrência natural. Isso ocorre devido às dificuldades de adaptação com risco de morte da colônia, além dos riscos de transmissão de doenças e produção de machos diplóides (devido à baixa quantidade de abelhas da espécie na área), inviabilizando a criação.

Sobre os desafios enfrentados pelos meliponicultores, os mais importantes são relacionadas a dificuldades ambientais, comopor exemplo a falta de florada, ocorrência de pragas, doenças e fogo. Além disso, também foram relatadas dificuldades tecnológicas, como a falta de registro na atividade e a falta de regulamentação do mel. É interessante verificar que a falta de florada é uma das principais dificuldades . É um resultado supreendendolevando em consideração que a maior parte dos meliponários se encontra em zona rural, ou seja, locais onde há maior presença de vegetação comparada com a região urbana. Tal dificuldade pode ser resultado da degradação ambiental, ou mesmo da falta de disponibilidade de espécies florais que são parte do grupo de preferência das abelhas sem ferrão criadas.

De modo geral, boa parte dos meliponicultores sinalizam que possuem muito interesse em continuar na atividade, apesar das dificuldades mencionadas, já que os benefícios encontrados, como a geração de renda e bem-estar, por exemplo, superam as dificuldades. Foi muito relatado, inclusive, o interesse detornar a atividade mais rentável. Ademais, fica evidente o quanto a atividade é relevante para a região amazônica, uma vez que é capaz de gerar entre os meliponicultores o entendimento da conservação ambiental, induzindo os mesmos a praticarem um manejo ecológico, buscando alternativas que não agridam o meio ambiente.

Para mais informações acerca do perfil da meliponicultura em Parauapebas, acesse o link para ter acesso ao trabalho integral.

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