Meliponicultura Inspira a Gestão Socioambiental das Comunidades Indígenas do Alto Solimões

Santo Antônio do Içá prospera como um mosaico de culturas indígenas, onde a apicultura com abelhas sem ferrão emerge como uma força unificadora. Para o futuro, eles vislumbram uma cooperativa local impulsionando a autonomia econômica e a coesão comunitária.

Author: Ivi Pauli
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Localizada no coração da Floresta Amazônica, Santo Antônio do Içá é um mosaico de comunidades indígenas e tradicionais. Com séculos de convivência harmoniosa com a natureza, hoje a região enfrenta ameaças provenientes do desmatamento e das mudanças climáticas, somadas aos conflitos crescentes sobre direitos territoriais e à invasão de atividades industriais em territórios tradicionais. Para proteger tanto a cultura quanto o meio ambiente, as comunidades lançaram uma iniciativa sustentável, com o apoio da Meli, focada na meliponicultura, visando equilibrar as necessidades econômicas com a gestão ambiental.

Grupos indígenas como os Kokama e os Kambeba possuem conhecimentos e práticas tradicionais que promovem, inerentemente, a sustentabilidade e o respeito ambiental, incluindo sistemas agroflorestais para manter a fertilidade do solo e medicina tradicional, baseada no uso sustentável de plantas medicinais. Em um esforço coletivo notável, o povo Kokama da Aldeia São Pedro do Lago do Miriti, a Associação Indígena Kokama de Santo Antônio do Içá, a Aldeia Indígena Raízes da Ayahuasca, a Comunidade São José, e os Kambebas da Comunidade Irmão Sol & Irmã Lua estão envolvidos ativamente e cada um terá seu próprio apiário.

A coordenação dessas comunidades é possível graças à liderança carismática do ativista Rômulo Kambeba Omágua, um contador de histórias indígena do Alto Solimões, cuja extensa rede e profundo conhecimento o tornam uma figura respeitada por todos que o conhecem. Apoiado por líderes locais, incluindo a Cacique Marciane,  a Cacica Joana, o Cacique Hilário e o líder Edinho, Rômulo está determinado a tornar o projeto um sucesso.

Outra figura crucial nesta equação é o Sr. Orlando “Bagunceiro”, especialista em abelhas sem ferrão e membro orgulhoso dos povos indígenas Cubeo e Guanano da Colômbia. “Adotado” pelo povo Kokama da aldeia Raízes da Ayahuasca no Brasil, o Sr. Bagunceiro tem uma profunda curiosidade sobre abelhas sem ferrão e pela produção de mel. Apesar de não ter treinamento formal no assunto, ele se tornou um autodidata experiente, aprendendo por meio de pesquisas na internet e acessando especialistas por meio de seu filho, um médico, e sua filha, uma bióloga. Sua dedicação e expertise o tornaram um recurso inestimável nos esforços da comunidade para cultivar abelhas sem ferrão.

A meliponicultura, ou criação de abelhas sem ferrão, é uma atividade econômica sustentável com profundas implicações culturais e ambientais para as comunidades indígenas de Santo Antônio do Içá. Por um lado, oferece uma fonte viável de renda, promovendo a autonomia econômica e capacitando as comunidades a assumirem o controle do seu próprio desenvolvimento. Por outro, a prática está profundamente enraizada nas tradições indígenas. Além disso, também é um componente vital dos esforços de conservação para essas abelhas nativas, que são polinizadoras importantes na Amazônia.

Em Santo Antônio do Içá, a jornada em direção à prosperidade econômica sustentável está em andamento. O estabelecimento de meliponários não apenas preserva tradições, mas também serve como uma ponte entre o passado e o futuro, garantindo que as práticas culturais sejam preservadas enquanto se adaptam às necessidades modernas. Ao aproveitar o poder da meliponicultura, essas comunidades estão lançando as bases para uma economia circular baseada em cooperativas. À medida que o projeto evolui, o objetivo é estabelecer cooperativas que aproveitem a expertise e os recursos locais, expandindo as operações de meliponicultura e promovendo a autonomia econômica.

Este modelo cooperativo capacitará indivíduos, nutrindo um sentimento de propriedade comunitária e autossuficiência, ao mesmo tempo em que garante uma gestão sustentável de recursos e minimiza o desperdício. Conforme esta economia circular amadurece, ela se tornará um ecossistema resiliente e próspero, contribuindo para a prosperidade a longo prazo e para a saúde ambiental das comunidades Amazônicas da região do Alto Solimões. Num sentido amplo, a criação de abelhas sem ferrão serve como uma ferramenta unificadora para as diversas comunidades indígenas de Santo Antônio do Içá, promovendo equilíbrio e harmonia dentro do território compartilhado.

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