Vale obstrui a locomoção de uma comunidade inteira, dificultando o acesso a hospitais, escolas e mercados. Ao realizar um protesto pacífico, moradores são amedrontados pela mineradora e policiais.
Autora: Jucilene de Jesus Pires da Silva
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No dia 20 de março de 2024, por volta das 12h36, moradores da comunidade Campo de Perizes realizaram um protesto pacífico para reivindicar melhorias no acesso à comunidade. No momento, o único meio de acesso à comunidade é por meio de uma via que fica localizada na faixa de domínio da Vale, e que é de responsabilidade da mesma. A comunidade de Campo de Perizes constantemente realiza reuniões para tratar da péssima condição da via, tentando, há anos, resolver no diálogo. Sem conseguir chegar à uma solução definitiva, a comunidade organizou um protesto pacífico na busca por seus direitos.
Residem na comunidade crianças portadoras de necessidades especiais, adultos em tratamento de doenças graves e idosos com comorbidades (hipertensos, diabéticos), o que torna ainda mais essencial e urgente uma via acessível para trânsito se caso ocorra alguma emergência.
Assim que foi realizado o bloqueio dos carros que estavam prestando serviço na área, um representante do Relacionamento Empresarial da Vale chegou até o local para ouvir e tentar solucionar as reivindicações. No entanto, o representante tentou intimidar os moradores, afirmando que o protesto poderia ser caracterizado como cárcere privado – mesmo que os moradores não tenham violado o direito dos trabalhadores da mineradora saírem do local em momento algum.
Representante da Vale, acompanhado pela polícia militar.
Em seguida, chegou a Representante do Relacionamento Comunitário, Marília, a qual já marcou diversas reuniões e acordou diversos prazos que nunca foram cumpridos. Entrando em contato com seus superiores, trouxe a proposta de realizar a manutenção a partir do dia 06 de abril, alegando que a Vale tem um cronograma e não pode fugir do mesmo.
Os representantes não aceitaram a data devido ser um prazo longo e por terem a necessidade de ir e vir diariamente para hospitais, escolas e a mercados para compra de alimentos. Dentro desse prazo, a comunidade tende a ter um acesso ainda pior, devido o fluxo de carros de grande porte para manutenção da ferrovia.
Após, essa imposição da data, a RC Marília se ausentou da comunidade. Em seguida, chegou uma viatura da PM com os policiais Diogo e Costa, indagando quais as nossas reivindicações. Repetimos o que falamos aos representantes da Vale, e o Policial Costa, indagou “esse acesso que está ruim?” Com ironia. Mostramos alguns pontos e o policial aumentou o tom de voz para um dos participantes do protesto abusando de sua autoridade, usando violência verbal.
Falamos que mandaríamos os vídeos aos órgãos competentes e o mesmo chamou outra viatura com o Tenente Lopes, responsável pelo setor da operação, onde se apresentou e tentou dialogar de forma respeitosa e pacífica com todos. Em diálogo, acordamos que o protesto pacífico continuaria até as 17h e que se caso a Vale não cumpra com o prazo imposto pelos representantes voltaríamos a reivindicar.
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