Conexões Transformadoras: A Rede Meli conhece os Kokama na Amazônia

A cacica Joana e o meliponicultor Orlando fizeram uma emocionante apresentação da sua aldeia, Raízes da Ayahuasca, durante a última reunião virtual entre as comunidades da Meli. Aproximando distâncias, biomas e culturas se encontram, fomentando conexões e inspirando ações coletivas.

Author: Ivi Pauli
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As reuniões online das comunidades da rede Meli são um ritual onde nos reunimos duas vezes ao mês, unindo distâncias, biomas, fusos horários e culturas, para compartilhar experiências e fomentar conexões. No meio da estação chuvosa, quando a Amazônia é encharcada por chuvas frequentes e fortes, nossas reuniões online têm um significado ainda mais especial.

Na sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024, ao amanhecer de mais um dia chuvoso, nosso espaço comunitário virtual deu as boas-vindas a convidados cuja jornada ecoava a resiliência da própria floresta tropical: o povo Kokama do Alto Solimões – localizado a 11km da cidade de São Paulo de Olivença, à qual está conectado por uma estrada de terra que fica extremamente enlameada nesta época do ano, tornando-a intransitável para qualquer veículo.

Nesta oportunidade, mergulhamos no coração de uma comunidade muito nova, “Raízes da Ayahuasca”, que surgiu há apenas dois anos. Liderada por uma mulher incrível, Cacica Joana, esta comunidade reside no meio da exuberante extensão do Alto Solimões, sendo composta por um grupo de famílias Kokama. A vila fica logo após o último poste da rede elétrica, e a recente abertura da estrada de terra foi um grande avanço: agora ela se estende até a entrada da vila. Aqui, no meio da paisagem serena, estão uma escola e casas feitas de madeira, cercadas por árvores frutíferas, batatas-doces, abelhas sem ferrão e a vastidão da Floresta Amazônica.

Numa demonstração notável de dedicação, Orlando, o especialista em abelhas sem ferrão da comunidade, orgulhosamente proveniente dos povos indígenas Cubeo e Guanano da Colômbia, empreendeu uma jornada corajosa. Apesar de residir na cidade, ele se levantou antes do amanhecer e enfrentou os caminhos enlameados e a chuva implacável para honrar seu compromisso com a família Kokama que o havia acolhido no Brasil. Ele caminhou por 4 horas seguidas para nos mostrar sua vila, saindo de casa às 4:30 da manhã, para poder apoiar sua Cacica no acesso à chamada.

Conforme as portas virtuais da nossa reunião se abriram às 9:00 da manhã, membros de todo o mundo se reuniram ansiosamente para imergir na narrativa cativante da “Raízes da Ayahuasca”. Através das palavras sinceras de Orlando e Cacica Joana, todos nós adquirimos uma visão das alegrias e lutas da vida na Amazônia, uma paisagem caracterizada pela resiliência diante da adversidade.

“É realmente emocionante para todos nós saber que há alguém lá fora, como vocês, cuidando de nós. Não estamos acostumados a ser cuidados, especialmente não com tanto amor e bondade.”

Apesar dos recentes avanços – uma estrada de terra recém-construída e a introdução de eletricidade – a comunidade continua lutando com o desafio profundo de acessar água limpa. A ausência de água tratada e um sistema de encanamento confiável lança uma sombra sobre os adultos, exacerbando as lutas enfrentadas pelas crianças que adoecem com muita frequência, principalmente com doenças parasitárias como a amebíase. No meio desses desafios, no entanto, a comunidade mantém o sonho compartilhado de estabelecer seus próprios tanques de peixes, o que não só ajudaria em sua auto-suficiência, mas também melhoraria sua segurança alimentar.

Lembrados do potencial para mudanças positivas através da ação coletiva, ficamos emocionados ao anunciar o lançamento de um projeto do nosso programa “Polinizando a Regeneração” com as Comunidades do Alto Solimões, incluindo a “Raízes da Ayahuasca”. Através dessa iniciativa, as comunidades reavivarão sua conexão com a natureza, começando por cultivar abelhas sem ferrão e produzir mel. Capacitando práticas sustentáveis que aumentam sua auto-suficiência e resiliência, também estaremos abordando seus desafios de acesso a água limpa.

Conforme a reunião virtual chegava ao fim, todos nós sentíamos um profundo senso de conexão, todos unidos por nosso compromisso compartilhado com a resiliência e o progresso liderado pela comunidade. Inspirados pelo povo de “Raízes da Ayahuasca”, saímos da reunião com nosso senso de propósito e determinação renovados. No meio dos desafios enfrentados na Amazônia, não pudemos deixar de notar as sementes de um amanhã mais promissor – um futuro guiado pela compaixão, solidariedade e esperança.

P.S.: A mestria de Orlando com mídias digitais merece um destaque especial! Ele assumiu, confiante, o centro das atenções, apresentando os projetos agrícolas e a apicultura de sua comunidade através de cativantes séries de vídeos. Mesmo prejudicado pela má conexão durante a reunião, ele compartilhou esses vídeos posteriormente, permitindo que os membros da rede vissem suas plantações, a colocação estratégica das colmeias e os planos para novas instalações. Seu entusiasmo foi um verdadeiro bálsamo para todos os membros da Meli.

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