O Programa Polinizando a Regeneração é centrado na liderança comunitária, desde a idealização. Vem conhecer porque essa perspectiva é tão importante para a governança e liderança das comunidades.
Author: Ana Rosa.
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Uma rede que fortalece o impacto positivo dos seus participantes, essa é a Rede Meli. O programa Polinizando a Regeneração começou reunindo membros das comunidades para tomarem decisões. Afinal, quem melhor para decidir quais projetos são melhor e mais eficazes na sua comunidade, do que quem vive por lá? Surpreendentemente, esta foi uma nova experiência para muitos deles. Mas já está virando uma prática comum.
O Programa Polinizando a Regeneração ouve as comunidades compartilhando suas realidades, desafios e propostas de soluções. A partir disso, algumas de suas ideias de soluções serão transformadas em realidade, do planejamento à execução. Tudo começa com uma fase de ideação, junto com as comunidades.
Para que esse programa seja possível, as comunidades precisam de um espaço seguro onde se sintam à vontade para compartilhar sua realidade, desafios e ideias de soluções. A Meli constrói esse espaço em uma rede de impacto. Mais de 50 comunidades tradicionais já estão engajadas na rede e, por meio de uma plataforma social, compartilham constantemente suas histórias, trazem perguntas, celebram sua biodiversidade e muito mais.
É fundamental para Meli conectar e ouvir as comunidades da rede, por isso organizamos o primeiro Meeting Meli Brasil (I Encontro: Associação Rede Meli Brasil). Lideranças de 8 comunidades indígenas e locais participaram reunidas em São Luís durante os dias 14 a 16 de novembro de 2022, com atividades fortalecendo sua liderança e governança.
“Achei [a oficina de ideias] super legal!
Francisco Guajajara, aldeia Zutwia, TI Arariboia
Foi a primeira vez que participei de algo assim”
Fotos: Grupos expondo suas ideias de projetos na primeira Oficina de Ideias, durante o I Encontro Rede Meli Brasil, em São Luís, novembro de 2022.
Durante o evento, o conceito de Oficinas de Ideias foi testado pela primeira vez. Foi uma experiência muito bonita e pudemos constatar o quanto essa atividade é necessária para fortalecer as lideranças, a governança e até a gestão dos projetos das comunidades. Os líderes comunitários do evento se prepararam para levar essa metodologia para suas próprias comunidades e fortalecer o entendimento mútuo sobre seus desafios e soluções, compartilhar a decisão sobre suas prioridades e estar prontos para ter suas vozes amplificadas.
O próximo passo foi ver essa metodologia acontecendo de forma plena em uma comunidade indígena e/ou local. Para isso, Meli visitou uma comunidade indígena Xikin e as comunidades camponesas Frei Henri e Deus te Ama.
O feedback da comunidade Xikrin deixou claro que o foco da metodologia deve ser em suas ideias ativas e não os problemas que eles estão cansados de repetir. Eles estão cansados de ver seus desafios sendo usados politicamente, sem trazer soluções concretas. É por isso que nossa metodologia primeiro destaca as perguntas o que e como, e o por que vem depois.
Um dos objetivos da metodologia era preparar os membros da comunidade para liderar as atividades e engajar seu grupo. Pensando nisso, Reni Lourenço, uma das lideranças comunitárias que participaram do evento em São Luís, trouxe essa metodologia para a comunidade camponesa Deus te Ama e para a sua própria comunidade (nos dias 2 e 4 de dezembro, respectivamente).
A Oficina de Ideias é mais que uma coleção de possibilidades de projetos. Trata-se da troca de ideias de um grupo fortalecendo seus laços. Para levar a metodologia a um número ainda maior de comunidades, realizamos dois workshops online treinando líderes comunitários.
“A experiência da oficina de ideias foi nova para nós. Falávamos de projetos mais nunca tínhamos, parado para descrever e pontuar os benefícios de cada uma delas. Agora eu já levo essa metodologia para todas as comunidades da vizinhança. Sermos reconhecidos como tomadores de decisão e colocar ideias no papel abre nossa visão e fortalece a segurança sobre o projeto, nos dando força para buscar nossos objetivos.”
Ana Maria, comunidade extrativista Campo de Perdizes
Foto: Oficina de ideias na comunidade extrativista Campo de Perdizes, Maranhão, liderada pela comunidade.
“O grupo ficou muito contente por se reunir para discutir e selecionar ideias de projeto que achamos mais importantes para nosso grupo no momento. Conversamos sobre como dar continuidade aos trabalhos ambientais que fazemos, inclusive o de educação ambiental. Conversamos sobre nossas metas e planejamento para o futuro na área onde trabalhamos coletivamente. Caso o projeto seja aprovado, esperamos viabilizar mais visitantes e colaboradores, sendo um incentivo forte a continuarmos buscando mais parcerias.”
Olinda, Pataxó Hãhãhãe
Foto: Oficina de Ideias na comunidade Pataxó Hãhãhãe, Bahia, liderada pela comunidade.
“A experiência em realizar a Oficina de Ideias na Terra Indígena de Boca do Acre, Aldeia Kamapã, superou as expectativas. A comunidade nos recebeu muito bem, e conseguiu compreender o objetivo da atividade. Consegui transmitir a metodologia em uma linguagem simples e todos os participantes puderam falar dos principais problemas e soluções que desejavam para a aldeia.”
Kukuy Apurinã
Foto: Oficina de ideias na aldeia Kamapã, Amazonas, liderada pela comunidade.
Líderes da comunidades foram preparados para realizar as oficinas em treinamentos que aconteceram em dois grupos, de acordo com a disponibilidade. Os seminários aconteceram nos dias 18 e 31 de Janeiro, respectivamente, acolhendo 16 e 17 pessoas cada. Foi assim que um total de 22 comunidades se envolveram e trouxeram mais de 100 ideias de projetos mostrando o que as comunidades gostariam de desenvolver em seus territórios. Eles também priorizaram as ideias de projetos, numa tomada de decisões compartilhada com todo o grupo participante.
Ao receber as fotos das comunidades que sediaram as oficinas, foi impressionante ver quantas pessoas fizeram parte do processo de tomada de decisão da Meli. De estados que já atuamos, como Maranhão e Pará, mas também comunidades em novos estados, como Piauí, Amazonas, Bahia, Acre.
Demos continuidade selecionando 10 comunidades (ou grupo de comunidades desenvolvendo atividades em conjunto) com ideias brilhantes para transformá-las em um projeto financiável. Destas, pelo menos 5 receberão financiamento para serem desenvolvidas – mas também estamos nos conectando com parceiros e doadores (você também pode entrar em contato!) para também desenvolver outros projetos.
As primeiras conexões já foram feitas, como com a universidade local UFRA (Universidade Federal Rural da Amazônia), campus de Parauapebas, que fica próximo à comunidade camponesa Frei Henri e se anima a apresentar aos alunos problemas reais das comunidades locais. A Universidade está dando a assessoria técnica necessária para a comunidade Frei Henri desenvolver sistemas agroflorestais.
“Os estudantes vieram com os professores para coletar uns dados sobre várias áreas da comunidade. O grupo que veio na minha área parecia estar fazendo isso pela primeira vez. Eles foram muito legais comigo, tivemos boas conversas.”
Francisca, comunidade Frei Henri
Foto: Professores e estudantes da UFRA visitam a comunidade Frei Henri em 29 de março de 2023.
As seguintes comunidades foram selecionadas para o apoio no desenvolvimento de pré-projetos:
- Aldeias Zutwia e Barreirinha, TI Arariboia, Maranhão
- Comunidade extrativista/pescadores Campo de Perdizes, Maranhão
- Comunidade Frei Henri, Pará
- Aldeia Kamapã, TI Boca do Acre, Amazonas
- Comunidade extrativista Sucupira do Norte, Maranhão
- Comunidade Pataxó Hãhãhãe, TI Caramuru Paraguassu, Bahia
- Comunidade Dalcídio Jurandir, Pará
- Comunidade Deus te Ama, Pará
- Comunidade extrativista Santo Antônio, Maranhão
- Comunidade Canto Grande, Maranhão
Estamos muito felizes em ver os primeiros resultados do Polinizando a Regeneração. Juntas, as comunidades multiplicam o impacto positivo uma das outras, polinizando tudo ao redor, como as abelhas sem ferrão!
3 Replies to “Polinizando a Regeneração: Fase de Ideação”