Por que é tão importante entender essa região? Vem conhecer Imperatriz, uma cidade cheia de mudançar, no sul do Maranhão!
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Autor: Guilherme Moreira
Imperatriz é uma cidade acolhedora. É como se fosse uma ”terra prometida”. Aqui, retirantes nordestinos e colonos de outras regiões e países encontraram um lugar apto ao recomeço e à construção de uma vida. E a cidade assim se fez; heterogênea. Hoje, Imperatriz tem função de capital regional – é uma “pequena metrópole” com considerável oferta de serviços de todo tipo: comércio, saúde, educação, indústria e serviços públicos. É a segunda maior cidade do Maranhão, tem quase duzentos e sessenta mil habitantes e um fluxo ainda maior: além do intercâmbio demográfico com outros municípios, há também fluxo interestadual por ser cidade fronteira do Maranhão com Tocantins; separados pelo majestoso Rio Tocantins.
Quanto ao bioma imperatrizense, podemos sintetizar da seguinte forma: Imperatriz é região de transição Amazônia/Cerrado, liame chamado de Pré-Amazônia.
O município ocupa há anos o posto de uma das maiores cidades componentes do chamado “arco do desflorestamento”. Há registros de que funcionaram simultaneamente mais de 300 estabelecimentos industriais e de serviços do setor madeireiro em Imperatriz na década de 70. Desde serrarias, laminadoras, movelarias etc. Foi esse o auge do chamado “ciclo da madeira”.
Talvez a realidade geopolítica de Imperatriz seja seu maior diferencial assim como também fator determinante de sua formação urbana e demográfica: é literalmente um entroncamento comercial. Dos três estados com os quais o Maranhão faz divisa (Pará, Tocantins e Piauí), Imperatriz localiza-se no “meio do caminho” entre suas capitais; 595,0 km de Belém (BR-010), 615,3 km de Teresina (BR-226), 627,8 km Palmas (BR-226) e 631 km de São Luís, capital do estado do Maranhão.
O ramo mais antigo da minha família na região já habitava estes sertões desde a segunda metade do séc. XIX, tendo chegado à Imperatriz em meados de 1860, arranchando-se primeiramente onde hoje é a Terra Indígena Krikati (Montes Altos). Junto com outras famílias, passamos por todos os ciclos econômicos: nos estabelecemos à margem do Rio Tocantins e fizemos deste rio a via para nosso fluxo econômico/social durante quase um século. Com a abertura das primeiras estradas, em especial a BR-010, que ligaria então Belém à Brasília, a cidade sofreu uma vertiginosa explosão demográfica.
Vários grupos autóctones distintos entre si habitavam esta região, com destaque aos Krikati, Tenetehara, Gaviões, Awa-Guajás e Kanelas, dentre vários outros, alguns, inclusive, extintos. Nós os expulsamos e destruímos a mata, a grande mata de Imperatriz, hoje, aparentemente portal de muita coisa menos da Amazônia. Inutilizamos a grande maioria dos riachos, mananciais, e toda fonte de recurso natural que motivou e contribuiu para o crescimento da cidade que temos hoje.
Cabe a nós a quebra desse paradigma, deste imperativo explorador, para que consigamos de fato uma cidade democrática, que não funcione em prol da economia em detrimento das pessoas. Nossa querida cidade é uma prova viva da diferença de “crescimento econômico” para “desenvolvimento econômico”.
São várias cidades dentro de Imperatriz. Porém, todas acolhedoras. Acolheu primeiramente os indígenas que fugiam dos Bandeirantes, que posteriormente acabaram atravessando o rio. Acolheu migrantes de todo o país, acolhe a minha família há mais de 150 anos. Levo no meu coração a culpa da exploração insustentável que originou meus privilégios, mas levo também o amor e a responsabilidade de ser a mudança que eu quero ver nessa cidade.
A todo momento temos uma oportunidade de refletir nossa relação com a cidade. Aos meus conterrâneos desejo do fundo do coração que sejam também meus correligionários no sentido de acreditar e idealizar a cidade. Aos que não conhecem a cidade, ou aos que ainda não se permitiram conhecer, sugiro que olhem para fora do carro, para as paredes, ruas e praças, e vejam esta cidade como parte da história do Brasil. Percebam; é muito mais do que apenas o caminho de casa para o trabalho.
3 Replies to “Imperatriz: um entroncamento urbano no sertão amazônico”